sexta-feira, 4 de março de 2011

Trem de ferro de Manual Bandeira

Café com pão
Café com pão
Café com pão
Virgem Maria que foi isto maquinista?
Agora sim
Café com pão
Agora sim
Café com pão
Voa, fumaça
Corre, cerca
Ai seu foguista
Bota fogo
Na fornalha
Que eu preciso
Muita força
Muita força
Muita força
Oô..
Foge, bicho
Foge, povo
Passa ponte
Passa poste
Passa pasto
Passa boi
Passa boiada
Passa galho
De ingazeira
Debruçada
Que vontade
De cantar!
Oô…
Quando me prendero
No canaviá
Cada pé de cana
Era um oficia
Ôo…
Menina bonita
Do vestido verde
Me dá tua boca
Pra matá minha sede
Ôo…
Vou mimbora voou mimbora
Não gosto daqui
Nasci no sertão
Sou de Ouricuri
Ôo…
Vou depressa
Vou correndo
Vou na toda
Que só levo
Pouca gente
Pouca gente
Pouca gente…

Como muitos devem saber a analise desse poema cantado é muito cobrada em vestibular
então fica a dica, lei o mesmo ouvindo sua musicalidade ao mesmo tempo, repita o prosseso após ter lido
a análise retirado de http://www.literaturaemfoco.com

   O tema de Manoel Bandeira Trem de Ferro, é uma imitação sonora de um trem em movimento. Sua riqueza está entrada no ritmo e na sua musicalidade baseada na métrica, na aliteração e na assonância. Além de incluir três canções em seu interior (Ôo, Ôo, Ôo). O ritmo do trem é marcada pelo número de sílabas poéticas do verso, quando está indo é veloz e há trissílabos, quando perde velocidade possui quatro ou cinco sílabas poéticas (café/pão).
   A influência do modernismo já estava presente nesse poema; o rompimento com “amarras” poéticas, ousadia de versos livres e menos rimados, o uso da ironia e o senso crítico.
   Busca a cultura popular, sobretudo a nordestina, fazendo citações de cantigas antigas e elementos do folclore brasileiro como embolada, cordel, repente e cantiga de roda estão no centro deste poema. E como se fosse brincadeira de roda autor nos convida a retornar ao mundo lúdico. Como mostra uma cantiga cujo o nome é Trem de Ferro.
“O trem de ferro quando sai de Pernambuco vai fazendo vuco-vuco até chegar no ceará
Rebola pai, rebola mãe, rebola filha eu também sou da família também quero rebolá
Um poquim de coca cola, um poquim de guaraná pra refrescá
Minha mãe me pôs na escola pra aprende o bê-a-ba
A danada professora me ensinou a namora
Sete e sete são quatorze com mais sete vinte e um
Tenho sete namorados mas não gosto de nenhum
Cada vez que beijo um
Do um tapa no bumbum”
   A linguagem coloquial e interiorana no poema é muito marcante como nos exemplos a seguir : “prendero”/ prenderam,  “canaviá” / canavial, “oficiá”/ oficial, “matá”/matar, “mimbora”/ embora. As imagens fugidas que passam pela janela do trem e que são percebidas por um eu-lírico infantil e ingênuo aumenta mais a riqueza do poema.
   O autor pode ter sido influenciado a colocar o título de Trem de Ferro, pois,
na década de 30 o mesmo teve seu auge e também  era o meio de transporte e de comunicação mais utilizado . A diversão dos lugarejos era ver o trem passar. Durante a Revolução de 1932 uma multidão se aglomerava na estação para ver os prisioneiros. Quando o trem parava as pessoas se aproximavam levando mantimento ou perguntando de algum amigo ou parente. O trem foi importante para re-inserção no
desenvolvimento econômico e social do país.
   Desde 1532 quando foram plantadas as primeiras mudas de cana de açúcar no Brasil em Pernambuco, já encontrava condições favoráveis para o plantio: clima, rios perenes, solo de massapé.
A produção de cana de açúcar foi muito forte no período de 1930-1950, pois com a crise de 29 a safra do café caiu, e com isso houve um interesse pela cana de açúcar e o algodão, e havia mão de obra em abundância  e barata. Através destes requisitos houve uma modernização, pois os estados financiaram pesquisas.
  No final do séc. XVI, esse estado já possuía mais de sessenta engenhos e em pouco tempo o açúcar brasileiro dominava o mercado europeu.
  O bom  desempenho canavieiro pode ser observado ainda em 1936 época do poema,  e resulta num grande êxodo para várias cidades.
  A mão de obra era quase escrava, o trabalhador era submetido a uma extensa e cansativa  jornada de trabalho, o pagamento muitas vezes, dava somente para pagar suas reifeções. O trabalhador encontrava-se preso, sem esperança de retorno para sua cidade natal. “Quando me prendero no canaviá”. Ironicamente anos antes  o Brasil passou por uma série de aprovação de leis trabalhista como regulamentação do trabalho feminino e infantil, descanso semanal remunerado, férias remuneradas e jornada de trabalho de oito horas diárias.
  O “canaviá” no poema pode ser comparado a uma cadeia onde cada pé de cana é um “oficiá”, reafirmando a idéia de prisão
A linguagem simples, opaca  chama atenção sobre si. A escolha das palavras, dos sons e das repetições possibilita ao leitor uma interpretação mais vívida do conteúdo.
  O autor marca com três versos repetidos os “tempos” do poema  seu início com os versos : “ Café com pão/ Café com Pão/ Café com pão…” o meio da viagem se dá com a seguinte repetição “ … Muita força/ Muita Força/Muita Força…” e o fim da viagem com “ …Pouca gente/Pouca gente/Pouca Gente…”
  Quanto a pontuação, Manuel Bandeira não usa de nenhum ponto final, é como se a viagem não parasse, o trem está sempre andando por isso a predominância de reticências que ao total são seis
Na primeira estrofe não há nada no verso “ café com pão” que imediatamente direcione o pensamento a um trem, não há mesmo qualquer referência direta. No entanto, a repetição desse verso produz uma seqüência de sons oclusivos explosivos, que em alternância com sons fricativos se assemelha ao barulho proveniente do deslocamento de uma locomotiva sobre trilhos.
  De mesma forma, há em outros versos uma série de sons consonantais (aliterações) capazes de imprimir à leitura uma cadência que sugere a idéia de deslocamento em diferentes velocidades. A repetição de “ muita força”, por exemplo, se dá em um ritmo de leitura mais lento, como se representasse o deslocamento por um trajeto elevado, daí a necessidade de mais fogo na fornalha. Já  as ocorrências de “passa ponte/ passa poste/ passa pasto”, entre outros transmite a idéia de um deslocamento mais veloz foi retomado e o trem passa ligeiramente pela paisagem.
  Ainda explorando o âmbito da sonoridade, figura com certa freqüência no poema.a repetição de sons vocálicos que parecem reproduzir, quase como onomatopéias, um apito de vapor os versos “ Ôo..” nos quais o próprio arredondamento dos lábios necessário à emissão do som, lembra um movimento de sono.
Além dos aspectos fonéticos, existe toda uma seleção vocabular, sobretudo na 3ª e 4ª estrofes, que além de conferir um aspecto de cantiga e folclore, é capaz de transportar o pensamento a uma paisagem interiorana, rural — na qual um trem costuma ser de grande valia.
Já na quinta estrofe quando deparamos com o verso “…que vontade de cantar…” traduz a vida simples do eu-lírico e a satisfação do regresso.
  Podemos observar a presença da personificação nos seguintes versos : “ … Menina bonita do vestido verde/ me dá tua boca /pra matá minha sede…” refere-se a própria cana que era usada litralmente para matar a sede,“de ingazeira / debruçada” ingazeira é uma fruta e o autor coloca como se fosse uma mulher.    Em “passa boi / passa boiada” observamos a gradação. Existe também  a metáfora outra figura de linguagem: “ cada pé de cana/ era um oficia”. A onomatopéia também está presente quando o autor coloca o “ Ôo…” ele esta indicando a imitação do som do trem.
  Na última estrofe assim como trem de ferro, o eu – lírico também tem pressa de chegar “…Vou depressa/Vou correndo/Vou na toda…” dando a idéia de velocidade e continuidade cor -  ren  – do.
Porém, os últimos versos “pouca gente/ pouca gente”nos remete a um sentimento de desilusão e decepção, a entonação enfraquece como se o trem fosse parar mas as reticências nos levam acreditar que ainda existe continuidade.“Que só levar pouca gente” deduz-se que seja  de um trem de carga.

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